25 de abril de 2024

Aquecimento global ameaça mais de 100 milhões de lagos pelo mundo, diz estudo

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Foto: STR

Em ritmo acelerado, o derretimento das geleiras tem impacto direto nos lagos da região norte. Mas esses não são os únicos biomas aquáticos afetados pelas mudanças climáticas. Em um artigo divulgado na edição de ontem da revista BioScience, cientistas da Universidade de York, no Reino Unido, alertam que os mais de 100 milhões de lagos do mundo estão ameaçados por “um caldeirão de problemas ecológicos” ligados ao aquecimento global.
Segundo os autores, esses efeitos são, muitas vezes, cumulativos e não conhecidos a fundo pelos estudiosos. Por exemplo, o aumento das temperaturas deixa a camada superior dos lagos mais quentes e menos densa, dificultando o suprimento de oxigênio para as águas mais profundas e, assim, comprometendo a sobrevivência de peixes e outras espécies aquáticas. Esse cenário de desoxigenação também pode ser agravado pelas florações de cianobactérias.
“A proliferação de algas pode impedir que a luz solar atinja as águas mais profundas, e a decomposição bacteriana de algas sedimentadas pode levar a uma diminuição do oxigênio para peixes de águas profundas e outras formas de vida aquática”, explica Richard Woolway, um dos autores do estudo. “Além disso, as tempestades episódicas podem fazer com que os nutrientes sejam levados repentinamente para os lagos e promovam o desenvolvimento de florações de cianobactérias.”
Os autores alertam que o excesso de algas nocivas leva também a um declínio na disponibilidade de água potável. Em 2014, uma floração de algas nocivas no Lago Taihu, na China, interrompeu o fornecimento de água para 2 milhões de pessoas por uma semana na cidade de Wuxi.
“As consequências ecológicas das mudanças climáticas, juntamente com os impactos de eventos climáticos extremos, já estão ocorrendo em lagos em todo o mundo e continuarão a ocorrer no futuro, muitas vezes sem aviso prévio ou tempo de adaptação”, diz Woolway. “Os resultados desse tipo de mudança foram sentidos em lagos do Algonquin Park, em Ontário, ao Lago Chade, na África, do English Lake District, no Reino Unido, ao Lake Mead, nos Estados Unidos”, relata.
A equipe também chama a atenção para declínios drásticos nos níveis de água em algumas regiões do globo. Historicamente classificado como um dos maiores lagos da África, o Lago Chade, que faz fronteira com Chade, Camarões, Níger e Nigéria, encolheu consideravelmente devido à diminuição da precipitação local e à descarga de sua bacia, bem como ao aumento da evaporação.
Agricultura
Os autores enfatizam que o estressor que geralmente mais contribui para a redução da quantidade de água em lagos é a ação humana direta, sendo o uso da água de superfície para a agricultura o principal culpado pela escassez de água em muitas regiões. “Exemplos notáveis de estresse hídrico devido à ação humana direta incluem o declínio de longo prazo do nível da água no Great Salt Lake, nos Estados Unidos, ou a dessecação amplamente documentada do Mar de Aral, no Cazaquistão e no Uzbequistão, outrora o quarto maior lago do mundo, causados principalmente por retiradas de água para irrigação”, ilustram.
A expectativa do grupo é de que avanços recentes em tecnologia, como o sensoriamento remoto, combinados com conhecimento ecológico tradicional, ajudem na formulação de medidas que ajudem na compreensão e no enfrentamento aos impactos das mudanças climáticas nos lagos. “Se a comunidade global quiser avançar em direção ao acesso equitativo à água potável até 2030, conforme descrito no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, a inclusão de diversas vozes de pesquisadores em todo o mundo, incluindo o Sul Global, e a polinização cruzada de ideias entre as disciplinas, será essencial”, indicam.

Por: Correio Braziliense

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