29 de março de 2024

Bolsonaro busca diálogo com Renan, e senadores de CPI reclamam de pressões nas redes

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Em uma ofensiva para tentar minimizar danos na CPI da Covid e após fracassar na tentativa de impedir que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) seja indicado o relator da comissão, Jair Bolsonaro (sem partido) fez um aceno ao congressista.

O presidente telefonou na terça-feira (20) ao governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), filho do senador, e pediu que ele avisasse ao pai que buscaria contatá-lo, o que ainda não ocorreu.

Na ligação a Renan Filho, Bolsonaro avaliou que o momento é inoportuno para a instalação da CPI.

De acordo com aliados, o governador se absteve de fazer comentários sobre a pertinência da hora para que se faça investigações, mas teria dito que o senador não cometeria injustiças no processo, até porque ele se sente injustiçado pelas apurações da Lava Jato que o atingiram.

Apesar de o mandatário não ter ligado ainda para Renan, o senador diz que vê como natural a ligação de um presidente da República para um governador e que não deixaria de atender.

“Não vejo nenhuma dificuldade ou obstáculo para conversar com o presidente. A minha carreira não se fez atacando, desconstruindo. Sempre me guiei pela ponderação”, afirmou Renan.

O senador tem sido criticado por apoiadores de Bolsonaro exatamente por ser pai de um governador. A CPI investigará o repasse de verbas federais a estados.

Em resposta, Renan disse que Alagoas não é alvo de apurações e que, caso venha a ser, a CPI deverá designar um membro que seja insuspeito para tocar os trabalhos.

“Se houver fato cuja investigação gere suspeição, não permitiremos. Cabe-nos, como integrante ou como relator, garantir a apuração e a imparcialidade”, afirmou o senador.

Renan Calheiros passou a ser apontado nos últimos dias como a principal ameaça contra o governo, no âmbito da CPI da Covid. Os governistas são minoria na comissão, ocupando apenas 4 das 11 vagas titulares.

A situação permitiu que o grupo formado por independentes e oposição pudesse fechar um acordo para eleger como presidente Omar Aziz (PSD-AM), que por sua vez indicaria Renan para a relatoria.

Inicialmente, o governo tentou agir para que Aziz indicasse outro nome e depois tentou trocar membros da comissão considerados independentes por outros mais alinhados ao Planalto, o que não deu certo.

Em minoria na comissão e apartados dos principais cargos, governistas começam a se mobilizar para que seja criada uma sub-relatoria para tratar exclusivamente dos repasses de recursos federais para estados e municípios. A investigação de governadores, em especial, é defendida pelo próprio presidente Bolsonaro.

A oposição, por sua vez, passou a reagir a esse avanço do governo para controlar essa eventual sub-relatoria, com receio de que se torne uma “CPI paralela” e que seja um mecanismo para tumultuar as investigações do governo Bolsonaro.

A proposta de criar sub-relatorias estava em planos iniciais do grupo independente e oposicionista, mas os congressistas agora advogam que essas subdivisões sejam pontuais. A decisão final caberá ao próprio Renan Calheiros, na condição de relator.

“[Governistas] Não podem manobrar [para criar a sub-relatoria]. Podem propor, podem querer, mas é uma decisão do relator”, afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE), integrante da CPI.

“Vão pedir, vão fazer uma guerra política, vão dizer ‘está vendo, eles não querem investigar, querem passar a mão para os governadores’, vai ser sempre uma disputa”, completou.

Renan, que tem sido alvo de ataques nas redes sobre o relatório que produzirá na CPI, disse que ainda não sofreu pressão de governistas e que também não cederia.

“Não há pressão sobre a investigação. Aliás, nenhuma pressão será bem-vinda, venha de onde vier. Não serei um relator monocrático e investigaremos unicamente em busca da verdade”, afirmou.

Governistas, no entanto, reclamam que a comissão está desbalanceada. Um líder afirmou que será necessário subdividir a comissão, porque serão vários tópicos a serem investigados. E que a oposição, embora maioria, não pode concentrar todos.

Em outra frente, senadores têm reclamado de ataques de aliados de Bolsonaro pelas redes sociais criticando a abertura da investigação e pressionando para que a apuração foque no repasse de verbas a governadores.


Folha de S.Paulo

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