29 de março de 2024

Mais da metade da população está insatisfeita com a gestão da educação básica pública no país, diz pesquisa

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A condução da educação básica pública no Brasil é reprovada pela maior parte dos brasileiros aptos a votar, segundo pesquisa encomendada pelo Todos Pela Educação. O levantamento, realizado pela Conectar Pesquisas e Inteligência, mostra que 58% da população com 16 anos ou mais se consideram insatisfeitos ou muito insatisfeitos com o Governo Federal, enquanto 54% dos entrevistados se dizem insatisfeitos ou muito insatisfeitos quando avaliam a condução dos governos estaduais.

— Essa rejeição tem muita relação com a resposta dos gestores públicos à pandemia. Muita coisa foi sentida diretamente pela população com seus filhos que ficaram fora da escola nesse período, ressalta Lucas Hoogerbrugge, líder de relações governamentais do Todos Pela Educação.

— Mas o que chama muita atenção é que a reprovação na política educacional é maior em relação ao governo federal que aos estaduais. Pesquisas de outros temas mostram o contrário, diz.

Desde o começo da gestão de Jair Bolsonaro, o Ministério da Educação (MEC) tem sido marcado por constantes trocas de gestores, redução de orçamento e baixa execução de recursos. Neste ano, a pasta ainda entrou no centro de suspeitas de que dois pastores pediam propina em ouro e em bíblias em troca de influência na liberação de verbas.

A pesquisa, quantitativa, foi feita nacionalmente entre os dias 7 e 24 de fevereiro deste ano. O levantamento foi realizado por telefone, com a aplicação de um questionário estruturado junto a um público de 3.860 pessoas, parcela representativa da população eleitoral brasileira com 16 anos ou mais. O intervalo de confiança é de 95% e a margem de erro é de 1,6%, para mais ou para menos, sobre os resultados obtidos pela amostra.

À espera de propostas

Faltando menos de seis meses para as eleições gerais no Brasil, o levantamento apontou que 59% dos eleitores brasileiros consideram a educação um tema “muito importante” na hora de avaliar propostas de candidatos. Já 15% disseram ser “pouco importante”, enquanto para 17% o tema será indiferente para suas escolhas em outubro.

— Educação costuma estar na agenda, mas não é prioritária. Estamos vendo que o eleitor está insatisfeito e quer ouvir propostas, analisa.

Na avaliação do líder de relações governamentais do Todos Pela Educação, há dois grupos de ações que deveriam ser resolvidos pelos novos eleitos, a partir de 2023. O primeiro ainda é de combate aos efeitos da pandemia.

— São quase dois anos de escolas fechadas com efeitos muito graves, especialmente na saúde mental. Por isso, tem um trabalho aí a ser feito, como busca ativa, recuperação de aprendizagens, acolhimento, que é para ontem, mas não houve em alguns lugares, diz o especialista.

O segundo grupo, de acordo com Hoogerbrugge, é de ações mais sistêmicas. Elas passam por fatores estruturantes, como a organização do financiamento para que ele fortaleça redes que precisam mais; políticas que olham para dentro da sala, como formação de professores; e medidas específicas por etapas, em especial creche, anos finais do ensino fundamental (do 5º ao 9º ano) e ensino médio.

— Quando a gente vê as redes que ampliaram as aprendizagens, percebemos que elas decidiram colocar a educação como prioridade política, tiveram foco e investiram em cada um desses pontos, diz.

A pesquisa também apontou que melhoria da infraestrutura das escolas públicas (citado por 45%), melhoria das carreiras dos professores (43%), busca dos estudantes que retornaram às escolas após a retomada das aulas presenciais (33%) e organização das redes de ensino para que alunos passem mais tempo no dia a dia tendo atividades nas escolas (30%) são os temas mais importantes da Educação a serem discutidos pelos candidatos, na avaliação dos eleitores.

O Todos buscou entender ainda como a população enxerga os efeitos da Educação no país. Quando perguntados que áreas vão melhorar se políticos eleitos nas próximas eleições colocarem a educação como a prioridade para o Brasil, 49% citaram a redução do número de desempregados, 40% acham que isso reduzirá a violência e 33% avaliam que trará melhoria da renda dos brasileiros.

Efeitos da pandemia

A pesquisa também quis saber a percepção da população em relação ao número de crianças e jovens fora da escola desde março de 2020, mês que marcou o início da pandemia da Covid-19 e deflagrou o período de mais de um ano sem aulas presenciais em todo o país. Com base na realidade da própria família ou nas pessoas de seu convívio, 63% dos entrevistados acham que aumentou o número de crianças e jovens fora da escola, enquanto 17% acreditam que o número ficou estável.

Além disso, 91% concordam que o ensino remoto não substitui o presencial, e as crianças e jovens precisam frequentar as escolas diariamente; e apenas 33% concordam que a possibilidade do ensino remoto melhorou o aprendizado; 82% concordam que a pandemia afetou mais os estudantes de escolas públicas do que estudantes de escolas privadas; e 57% concordam que, durante a pandemia, melhorou o acesso à internet e às tecnologias para educação nas regiões em que vivem.

— Houve realmente um esforço de secretários de educação para melhorar a conectividade. Mas a situação era tão precária que melhorou, mas ainda estamos longe do adequado, diz Hoogerbrugge.

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